quarta-feira, 18 de maio de 2016

Morte é gerúndio


O que é viver, senão morrer devagarinho?!
Quantos passam a vida preocupados com a hora em que a morte lhes visitarão? Como se fosse assim de súbito. Como se fosse o óbito um acaso. Como se morte fosse surpresa.
Sinto lhe informar que a hora da morte é já!
A sua, a minha e a do padeiro.
Estamos a morrer a cada cigarro fumado, prato servido, minuto corrido, beijo não dado. Estamos a morrer o tempo inteiro. Estamos a morrer durante os banhos quentes em nossas casas confortáveis. Mesmo que não sejam quentes, mesmo que não sejam casas, mesmo que não sejam confortáveis. Morrem os que esperam, morrem igualmente os que se esqueceram do fato.
A morte é gerúndio. Estamos todos morrendo.
A sentença final foi dada e passou-se à execução antes de carimbada a certidão de nascimento. Sinto muito, mas não há tempo para choro ou lamento. Na verdade, talvez haja, mas dedicar-se a isso é algo que eu não recomendo. A morte urge à nossa porta. Adiante-se que já passa da hora!
Façamos as malas enquanto o trem lúgubre já partiu; despeça-se dos seus queridos que vão em outro vagão.
A vida nunca foi inteira, plena, completa. Nem lhe prometeram-na assim. Mas também não falaram que a morte viria a reboque, eu sei.
A vida morre em mim a cada letra que lanço neste aviso dispensável. Vou tratar então de findá-lo antes que finde eu.
A vida é ferro velho, a morte é ferrugem.
Só me resta esperar que enquanto não se acaba toda a vida, eu saiba gozar de uma morte digna.

Que a morte já está, não duvido. Triste mesmo deve ser morrer sem ter vivido.

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