O que é
viver, senão morrer devagarinho?!
Quantos
passam a vida preocupados com a hora em que a morte lhes visitarão? Como se
fosse assim de súbito. Como se fosse o óbito um acaso. Como se morte fosse surpresa.
Sinto lhe informar
que a hora da morte é já!
A sua, a
minha e a do padeiro.
Estamos a
morrer a cada cigarro fumado, prato servido, minuto corrido, beijo não dado. Estamos a morrer o tempo inteiro. Estamos a morrer durante os banhos quentes em nossas casas confortáveis. Mesmo
que não sejam quentes, mesmo que não sejam casas, mesmo que não sejam
confortáveis. Morrem os que esperam, morrem igualmente os que se esqueceram do fato.
A morte é
gerúndio. Estamos todos morrendo.
A sentença
final foi dada e passou-se à execução antes de carimbada a certidão de nascimento. Sinto
muito, mas não há tempo para choro ou lamento. Na verdade, talvez haja, mas dedicar-se
a isso é algo que eu não recomendo. A morte urge à nossa porta. Adiante-se que
já passa da hora!
Façamos as
malas enquanto o trem lúgubre já partiu; despeça-se dos seus queridos que vão
em outro vagão.
A vida
nunca foi inteira, plena, completa. Nem lhe prometeram-na assim. Mas também não
falaram que a morte viria a reboque, eu sei.
A vida morre
em mim a cada letra que lanço neste aviso dispensável. Vou tratar então de
findá-lo antes que finde eu.
A vida é
ferro velho, a morte é ferrugem.
Só me resta
esperar que enquanto não se acaba toda a vida, eu saiba gozar de uma morte digna.
Que a
morte já está, não duvido. Triste mesmo deve ser morrer sem ter vivido.
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