Gostaria de renunciar a algumas
coisas. Das que me incomodam nesse momento, a mais surpreendente delas, talvez,
seja as relações, a constante necessidade do outro, o sufoco insuportável que surge do
apego. Transformamos cada um dos outros em coisas, com dimensões, valores
calculáveis, muitas vezes banais, tantas vezes portáveis. E isso é cruel.
Assassinamos a liberdade alheia a
golpes de querer, e permitimos que façam o mesmo com a nossa.
Quando vemos, estamos coagidos a ser e
estar aquilo e onde sequer poderíamos ou gostaríamos, pelo simples e puro prazer de outrem.
Sempre fui um grande fã e
entusiasta do romantismo, aquele de exageros e superlativos, mas tenho aprendido que não conheço seus limites,
ou não consigo domá-lo em uma área segura. Perco a mão na sua embriagante beleza, e
deixo passar do ponto. Falo isso porque a entrega ao outro, de um ponto de
vista bem particular, resulta desse romantismo, essa obrigação e necessidade de doar-se inteiro,
traçada por sabe-se lá quem, que mantem-se, mas tortura.
Então, preciso abdicar do
outro para, só assim, ser quem eu puder ser, e nunca mais o que esperam que eu seja.
Renuncio à necessidade, à
presença, à ganância, à espera, a ti e aos outros, para que caiba mais amor em
mim.