segunda-feira, 18 de julho de 2016

Carro no tempo


Sou carro no tempo
Muita velocidade e torque ao relento 
Motor exposto aos desenganos das intemperanças 
Depois da tempestade, aqui, nenhuma bonança 
Sou lata retorcida e borrachas ressecadas
Válvulas demais sem uso 
Histórias e estradas que se punham no rumo são passadas 
Restaram-me as marcas 
Os amassados das topadas com outros tantos feitos eu
Fendas na lataria que se fizeram de memoráveis aventuras
Hoje são entradas da hora que me oxida e enferruja 
Sou carro no tempo 
Que não passeia, não trabalha. Entulha
Descansa sem honra sob o sol, o descaso e a chuva 
O óleo que me sobrara nas veias juntou-se em graxa 
E hoje suja e aborrece quem me visita por nostalgia 
Ou em busca de uma peça que lhe repare algo mais novo e a própria vida 
Sou carro no tempo
Estou todo aqui, mas não me veem  
Deve ser por minha tinta enrugada sobre o capô se misturando aos rejeitos de pássaros ultrajantes, que sequer reconhecem a potência sepultada de onde cagam.

Nenhum comentário:

Postar um comentário